Quando o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, estava considerando comprar o Instagram em 2012, ele disse ao CFO (diretor financeiro) da sua empresa que isso neutralizaria um concorrente, de acordo com e-mails obtidos pelo Subcomitê Antitruste do Congresso americano e publicados na quarta-feira (29).
Os e-mails, que foram publicados pela primeira vez pelo Verge, foram citados pelo deputado e presidente judiciário do Congresso, Jerry Nadler, enquanto ele questionava Zuckerberg em uma audiência sobre antitruste.
Junto com Zuckerberg, os mais altos executivos da Amazon, Google e Apple foram questionados através de videoconferência sobre o poder de mercado das suas empresas e o dano que elas causaram para os consumidores. Membros republicanos do Congresso também questionaram Zuckerberg e o CEO da Google, Sundar Pichai, sobre o que consideram um viés anticonservador nas plataformas.
A audiência aconteceu depois que o subcomitê passou aproximadamente um ano investigando possíveis violações antitruste cometidas pelas grandes plataformas de tecnologia. Como parte do processo, o comitê juntou registros das empresas, incluindo os e-mails enviados entre Zuckerberg e David Ebersman, ex-CFO do Facebook, .
Em um e-mail enviado no final de fevereiro de 2012, Zuckerberg disse a Ebersman que estava pensando em quanto o Facebook deveria pagar para adquirir concorrentes menores, como o Instagram e o Path, que eram, até então, redes sociais recém-surgidas. O Facebook acabou adquirindo o Instagram em abril daquele ano por US$ 1 bilhão.
“Essas empresas nasceram agora, mas as redes já estão estabelecidas, as marcas já são expressivas, e se crescerem a uma larga escala elas podem ser muito destrutivas para nós”, escreveu Zuckerberg.
Ebersman respondeu que, tipicamente, faz sentido adquirir outra empresa por uma de três razões: neutralizar um concorrente, adquirir talento ou integrar produtos.
Zuckerberg disse que foi uma combinação da primeira e terceira razões.
"Há efeitos de rede que rondam produtos sociais e um número finito de mecânicas sociais diferentes a se inventar. Uma vez que alguém vence em uma mecânica específica, é difícil para os outros suplantarem-na sem fazer algo diferente", escreveu o CEO.
Ele acrescentou que adquirir uma dessas empresas daria tempo ao Facebook para se resguardar de outras ameaças competitivas.
“Mesmo que outros concorrentes novos surjam, comprar o Instagram, Path, Foursquare etc. agora nos dará um ano ou mais para integrar as suas dinâmicas antes que qualquer um possa chegar perto da escala deles de novo, " acrescentou.
Zuckerberg enviou um e-mail para Ebersman de novo 45 minutos depois de voltar atrás na fala de "neutralizar um concorrente".
"Eu não quis insinuar que deveríamos comprá-los para evitar que eles sejam nossos concorrentes de jeito nenhum", escreveu ele.
Mas Nadler se apoderou da troca de e-mails como evidência de comportamento anticompetitivo.
“O Facebook viu o Instagram como uma ameaça que poderia desviar serviços para longe do Facebook. Então, ao invés de concorrer com ele, o Facebook o comprou”, disse ele. "É exatamente o tipo de aquisição pelo qual as leis de antitruste foram criadas para impedir. Isso nunca deveria ter acontecido e não pode acontecer de novo."
Zuckerberg discordou. “Eu sempre fui claro a respeito de que víamos o Instagram tanto como concorrente quanto como um complemento dos nossos serviços”, disse ele, acrescentando que o FTC não bloqueou a aquisição na época.
“Congressista, eu acho que o FTC tinha todos esses documentos, os revisou, e, unanimemente, votou na época para não contestar a aquisição. Eu acho que parece óbvio que o Instagram teria alcançado a escala que tem hoje, mas na época era longe demais do óbvio.”
Depois que Zuckerberg citou o FTC na sua resposta, o deputado David Cicilline, de Rhode Island, presidente do subcomitê, disse que a decisão do FTC foi irrelevante.
“Eu gostaria de lembrar à testemunha que as falhas do FTC em 2012, é claro, não aliviam as contestações de antitruste que o presidente [Nadler] descreveu”, disse.
Os deputados democratas publicaram comunicações internas adicionais do Facebook sobre a aquisição do Instagram, incluindo uma do fim de janeiro de 2012, onde um funcionário não mencionado disse que o "Instagram está comendo o nosso almoço".
Meses depois, no dia que a aquisição do Instagram veio a público, Zuckerberg escreveu para o funcionário para reconhecer que o “Instagram era a nossa ameaça”.
"Você estava basicamente certo", disse ele. "Contudo, uma coisa sobre empresas que estão surgindo agora é que, geralmente, podemos comprá-las."
Além dos e-mails não publicados anteriormente do Facebook sobre o Instagram, a audiência não forneceu muitas evidências novas. Os membros democráticos do subcomitê questionaram os CEOs sobre os seus produtos e empresas, enquanto vários republicanos os pressionaram a respeito de censura anticonservadora.
O deputado Frank Sensenbrenner, de Wisconsin, o republicano a ser contado no subcomitê, perguntou a Zuckerberg sobre uma ação tomada contra a conta de Donald Trump Jr. depois que ele compartilhou um vídeo cheio de inverdades potencialmente nocivas sobre o coronavírus.
Zuckerberg apontou que a conta e o incidente em questão ocorreu no Twitter, não em nenhum dos produtos do Facebook. "Logo, para mim, é difícil falar sobre isso", disse ele.
Este post foi traduzido do inglês.